sábado, 3 de março de 2012

PÁGINA EM BANCO



“UMA PÁGINA EM BRANCO”

O começo de uma página em branco, em branco porque não sei o que escrever, não pode ser preenchida, porque ainda não descobri o que deverei escrever, são lacunas da vida, não têm  significado, ainda não foram decifradas.

Não são explícitas, onde estou é impossível explicar certas coisas, não sei, não consigo explicar, esta página em branco. Acabei de ler esta frase talvez nela esteja alguma resposta a esta página em branco.
“Para que possa surgir o possível é preciso tentar várias vezes o impossível"
                                 (Nuno westwood)

 mas será que consigo perceber o impossível, para chegar ao possível?
Talvez esteja aqui a resposta à minha página em branco. Mas é supostamente nesta página em branco que provavelmente digo muita coisa, compreensível para algumas cabeças, cabeças mais abertas, porque o branco é transparente, o branco diz tudo, uma rosa branca, uma folha de papel branco, uma nuvem, a espuma de uma onda, tudo em branco se percebe.

Quando sou consiza, quando falo de sorrisos, de afetos toda a gente entende, estou feliz, não há de facto nada para explicar, sou explícita, frontal, sou tão previsível, tão transparente, tão sensível, que até eu tenho pavor disso, mas existem coisas complexas, sem respostas, ou então eu ainda  não as encontrei. A única coisa que sei, de que tenho a certeza é que dói, dói muito e eu não queria que doesse, porque no fundo, no fundo sou assim transparente como a água do riacho, como a lágrima que se solta num momento de tristeza, ou felicidade, uma gota de àgua da chuva, sempre soube estender a mão, sempre soube dar o tal abraço, e esta página em branco vai seguindo o seu caminho sem explicação, porque ela é branca não se vê, só se sente, está dentro de nós.
Ela é o rio que corre no seu leito, ela é a lágrima que corre pela cara de alguém, ela é a chuva que cai de mansinho na janela do meu quarto, e através dela eu vejo tudo, tudo passa a ser claro, porque também ela é transparente, e então a página em branco já não é branca encheu-se de letras, de palavras, e disseram alguma coisa, já não são incompreensíveis, disseram algo e esse algo é tão igual a mim como a página em branco, como a sua transparência, e nessa transparência eu me revelei.

Isabel Cabral