Há dois dias atrás ao ler no blog da minha amiga Viviana, um texto sobre uma colectividade que tinha aberto na terra dela (Mira Sintra), onde se pode conviver e aprender, um centro de cultura
que pode ser exemplo para muitos outros locais deste nosso país, onde falta tanta coisa.
E como não podia deixar de ser lembrei-me logo das "Casas do Povo", existentes há muitos anos atrás em quase todas as aldeias por esse país fora.
Claro que a primeira de que me recordei foi de Sabóia, onde passei longos anos de férias, aldeia alentejana, perto de Odemira. Sabóia dependia essencialmente da agricultura, pecuária e outros pequenos comércios.
Em Sabóia, faço um especial destaque para a barragem de Santa Clara onde na nossa adolescência e pré-adolescência passámos bons bocados a pescar no rio Mira e em aventuras que agora não vou relatar em especial, porque o assunto de que me lembrei foi de facto as "Casas do Povo".
Uma das minhas tias foi lá professora desde que acabou o seu curso até ao fatídico dia em que um acidente a caminho de Sabóia, lhe ceifou a vida, atropelada quando ia comprar flores para o
jardim da sua casa em Sabóia.
Mas, em Sabóia a população que não chega aos 1500 habitantes, na sua maioria idosos (já naquele tempo) ganhava uma vida especial no Verão pois os meninos de Lisboa iam visitar os avós, tios e outros familiares e junto com outros jovens (poucos da própria aldeia), fazíamos coisas deliciosas de que ainda hoje sinto o cheiro e o sabor, de aventuras de crianças inocentes que brincavam com um prazer desmedido desde o nascer do sol até ao pôr do sol e com algum
jeitinho prolongava-se pela noite, naquelas noites quentes alentejanas, no adro da igreja, ou noutro lugar similar, e aí entra precisamente a "Casa do Povo", onde a população se juntava para tomar a bica e desfrutar de amenas conversas depois de um longo dia de trabalho no campo.
Nós crianças para além de pescarmos bogas na barragem, íamos apanhar sapos para o rio, coisa que eu nunca fiz porque me fazia imensa impressão, mas eram sem dúvida dias bem passados.
Nos dias de festa os famosos bailaricos, na" Casa do Povo", onde toda a gente bailava ao som de conjuntos muito desajustados para nós pois achávamos aquilo uma grande pirosada, mas que pirosada de que hoje sinto uma certa nostalgia.
Tudo acabou, as pessoas foram partindo, jovens nem vê-los, e ao longo dos anos Sabóia tornou-
-se
para grande desgosto meu, e de tantos que lá passaram bons momentos, uma das aldeias, se não a aldeia com mais suicídios existentes em Portugal.
A "Casa do Povo", certamente como outras coisas fechou, morreu de velha, e os idosos, os idosos
ficaram a morrer desgraçadamente em casa à espera da sua hora, sem crianças, sem jovens que outrora fizeram tantos Verões, naquela e noutras aldeias como aquela.
A tristeza passou por ali e nunca mais foi embora. Os gritos das crianças da escola já não se ouvem.
A música dos bilaricos "pirosos", já não se ouve.
Onde está toda a gente, que um dia fez parte daquele cantinho maravilhoso, onde eu e tantos outros gostaríamos de continuar a pescar no rio e a dançar ao som das músicas mesmo que fossem "pirosas" nas "Casas do povo"
para grande desgosto meu, e de tantos que lá passaram bons momentos, uma das aldeias, se não a aldeia com mais suicídios existentes em Portugal.
A "Casa do Povo", certamente como outras coisas fechou, morreu de velha, e os idosos, os idosos
ficaram a morrer desgraçadamente em casa à espera da sua hora, sem crianças, sem jovens que outrora fizeram tantos Verões, naquela e noutras aldeias como aquela.
A tristeza passou por ali e nunca mais foi embora. Os gritos das crianças da escola já não se ouvem.
A música dos bilaricos "pirosos", já não se ouve.
Onde está toda a gente, que um dia fez parte daquele cantinho maravilhoso, onde eu e tantos outros gostaríamos de continuar a pescar no rio e a dançar ao som das músicas mesmo que fossem "pirosas" nas "Casas do povo"
5 comentários:
Também eu sinto saudades das férias de antigamente... As coisas mudam muito depressa - umas para melhor, outras, infelizmente, nem tanto.
Mosaicos da nossa lembrança que nos ajudaram a crescer e sermos felizes. Mas também de dor por tanta coisa que vai desaparecendo, assim, de repente, e apenas permanecem na nossa memória.
.
Carpe diem!
è verdade sim... andamos todos apressados e sem tempo nem para pensar ...poucas crianças poucas motivações pouco tudo...
beijinhos das nuvensgtiovty
Olá Isabel,
A minha saudosa e querida mãe, dizia muitas vezes:
Tudo muda! tudo passa!
E que pena que essas coisas que marcaram a vida de tanta gente, possam assim, sem mais... desaparecer?
Podem até criar-se outras infra - estruturas mais modernas... mas isso não quer dizer que se desprezem completamente as anteriores.
Receio bem, que por estas e por outras... as memórias de Portugal vão desaparecendo.
Um abraço
Viviana
Eu gostava dos bailaricos pirosos...lol
Se bem que sou menina da cidade e quando ia à terra da minha mãe é que me dava conta das festas e romarias. Mas era tão bom... e naquela altura ir de férias sem correr os bailaricos todos não eram férias...
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