Numa brisa aprazível e gostosa
um dia me perdi
pelo infinito
daquele mar imenso de açafrão
das rendas sem igual da minha terra
num zarpar constante e permanente
da bruma,
num manifesto querer de navegar
ao encontro da espuma
que mãos, todos os dias a lutar,
numa luta sublime e desigual,
entre vigílias penosas
e angústias mortais
tecem belezas feitas maresia.
E, nos bilros das mãos das rendilheiras,
cansadas já de tanto labutar
de novo me perdi pelo infinito.
E então,
nas ondas me despi
dos preconceitos, fugi
da bruma e do casar fiz um vestido
de renda branca urdido
por mulheres
obreiras de milagres,
que, entre os dedos
de onde pendem os bilros
contam e recontam mil segredos,
nos piques com perfume de açafrão,
e estórias de encantar
de geração atrás de geração.
E assim eu fui milagre entre milagres,
por, só de ver e ouvir as rendilheiras,
eu própria me sonhar
que era uma renda.
Conchinha
Isabel Cabral
Nestas rendas de bilros, está um bocadinho da nossa história, que tem que ser preservada
terça-feira, 11 de novembro de 2008
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27 comentários:
Olá Isabelinha
Este poema é mesmo uma renda primorosa saída das mãos de uma poetisa que, em espumas de ondas, tece com palavras o sentir a vida e a tradição...o mar e os bilros vão construindo sonhos, como os versos dedilhados pela delicadeza das suas mãos.
Beijinhos com grande carinho,
Isabel
Boa tarde Isabel,
gentileza a sua com essas palavras tão bonitas.
Humildes as minhas palavras, que só querem deitar cá para fora o meu sentir!!!
Um beijo com ternura amiga, espero que tudo esteja bem
Isabel
rendas de bilros, lindíssimas! nunca aprendi, que bom trazê-las aqui, mas és de onde?, peniche? é de onde eu as conheci, se bem que em casa da minha avó havia lá uma almofada de as fazer, onde ela, a minha mãe e tia podiam executar, pois sabiam...
tenho alguns trabalhos, são lindos,
heranças de família...
rendas de praia, rendas de mar!
obrigada, isabel
beijinhos
Uma leitura é sempre bem vinda, quando se descobre textos interessantes.
Saudações!
[]'s
.
.
.
Um poema feito de renda e de história... a renda de bilros é uma tradição que se vai perdendo e pela qual é preciso lutar, assim como pela poesia, porque com o mau português que a maioria dos nossos alunos escreve, também corre o risco de desaparecer!
Beijinhos.
Olá gaivota,
Quem vivia em Peniche eram os meus avós paternos, e agora o meu pai também lá vive, daí todas estas minhas ligações tão fortes ao mar, estas raízes poéticas que vieram do meu pai, onde eu sou uma autêntica formiguinha principiante.
Este poema em particular foi feito para um concurso em que eu participei.
Fiz o poema expressamente para esse evento, foi engraçado pois foi a pimeira vez em que colaborei com poemas, faço-os à relativamente pouco tempo.
Vou tentando escrever algumas coisas, e o mar é sem dúvida uma das minhas maiores inspirações.
Depois vivendo em Cascais, também estou perto de mar, e no meu Alentejo de adopção como costumo dizer também há mar.
Todas as férias de menina eram lá passadas e habituei-me a ver os bilros, as rendas, as gaivotas.....
Beijinhos
Isabel
Obrigada pela sua visita vdj,e por gostar de ler.
Fique bem
Isabel
Tudo bem fada?
Realmente não podemos deixar morrer estas e outras tradições, que foram e são a história de um país.
A renda de bilros para já em Peniche não corre esse risco, porque há quem se encarregue disso, e que conseguiu que até crianças aprendessem a fazê-las.
Vão ao estrangeiro participar em concursos, especialmente a Espanha,
e não nos têm deixado ficar mal, tanto quanto sei, porque me fica próximo, esta iniciativa, para que estas maravilhosas coisas não morram, mas é precisa muita luta, muito trabalho e principalmente muito amor!!!
Beijinhos
Isabel
pois querida isabel, tinha que ser assim este percurso, sente-se mar e gaivotas nas tuas veias ao escreveres...
eu nasci em caldas da rainha, tenho a foz do arelho ali à mão e muitas outras praias ao redor, a nazaré adptou-me há muitos anos, onde tenho a minha casa, vivi na parede e regressei a uma aldeia perto de loures onde remodelei uma moradia, mas o mar está sempre comigo e as minhas princesas gaivotas acompanham-me...
daqui desta minha casa à outra minha casa na anzaré são apenas 100 km e com a A8, é um pulo!
beijinhos
Esse trabalho é muito lindo!
Uma homenagem muito bonita dos seus poemas para essa arte sem par...
Beijos de luz!
Obrigada pela sua visita, mundo Azul.
Abraço
Isabel
"Nestas rendas de bilros, está um bocadinho da nossa história, que tem que ser preservada"
As suas palavras sao as minhas.
Quando estive em Portugal este Verao, infelizmente pouco mais de duas semanas, encomendei o livro do seu pai sobre as rendas de bilros. Mas nao chegou a tempo. Mas trazem-mo no Natal.
Estou de saída, mas volto mais tarde.
Um poema curioso, bem escrito, com um gosto antigo, quase clássico.
Gostei.
Bjs
Olá querida Isabel,
Mas que lndo poema, amiga!
Sempre, sempre o mar...
E agora, misturado com as lindíssimas rendas de bilros.
uma vez mais OBRIGADA.
Um beijo
Viviana
Lindas rendas ví aqui !
Delicadeza,minúcias,detalhes;mimo;
primor;inteligência e sensibilidade...
em nossa família nnca fizemos renda;mas crochet;aprendi ainda menina com uns sete anos de idade ...minha bisa faleceu aos 94 e ainda crocheteava;mminha avo aos 85 ainda o faz...Entrelaçar,entretecer;amarrarenvolver vomo nos envolvem as ondas do mar ;embora enrolem para desenrolar...
enquanto li estes versos é como se pudesse entretecer ,sentindo meu amado e precioso vento,sentir o som das águas ;ver o sol reletido nas águas entre ma pausa e outra e suspirar
Este sol tão gostoso que não me deixa morena ,apenas me aquece pra dizer que está aqui!
Há um salmo na bíblia que diz que Deus nos entreteceu...ele foi o primeiro rendeiro ;quando fez os tecidos do nosso corpo nos formando no oculto!
Beijinhos!
Volte sempre!
Só agora cheguei aqui, e como respondi a todos, não poderia deixar de fazer aos restantes.
Ainda bem que gostou poeta, fico grata com as suas palavras.
Porquê curioso?Agora fico eu curiosa.
Beijo
Isabel
Minha amiga Viviana, de facto sempre o mar, o poema obedecia a uma temática, que tinha algumas palavras que seriam, ou teriam que ser mencionadas, tais como o mar, a renda de bilros, eventualmente nomes de algumas rendas e por aí....
E saíu assim.
Beijo
Isabel
Olá Adriana!
Que bonito comentário que me teceu, como uma renda de bilros.
Fui criada, ou seja passava as minhas férias perto do mar em casa dos meus avós e nesse tempo toda a gente sabia fazer renda de bilros, ou quase toda, e eu habituei-me a ver
em todas as casas as almofadas, e curioso, muitas mulheres faziam-nas à porta de casa, segundo me consigo recordar.
Os tempos eram outros, e quando eu bem menina passava para a praia ou regressava, assistia a todas essas manifestações, que hoje não passam de história e cultura do nosso povo.
Felizmente nalguns sítios consegue manter-se minimamente, pois é pena
perderem-se coisas tão bonitas.
Lembro-me de embaralhar os piques todos, a fingir que fazia renda, só mais tarde comecei a apreciar todas essas belezas de uma cultura
bem portuguesa.
Beijinhos e obrigada
Volte sempre
Isabel
Olá Isabel
Pois venho aqui reclamar, eu fico muito desgostosa se a Isabel deixar um pouco para trás o seu blog. NEM PENSAR!
Quero mais publicações! Pronto já apresentei o meu protesto.
Beijinho muito grande,
Isabel
Olá Isabel
"Pois venho aqui reclamar, eu fico muito desgostosa se a Isabel deixar um pouco para trás o seu blog. NEM PENSAR!
Quero mais publicações! Pronto já apresentei o meu protesto."
Eu vinha aqui também para reclamar.
E encontrei as palavras exactas do "Artista Maldito".
Isabel, nao é só a sua ausencia. Agora tenho outra maneira de contactar consigo e nao a deixarei em paz. Mas o caso é outro. Quando a sua poesia atinge a sua melhor qualidade, é que quer deixar.
Quando li este poema pensei que era do seu pai, só depois é que vi o seu nome.
A resolucao é sua. Pense bem. Às vezes temos que ser egoistas e seguir o "nosso" caminho. Viver a "nossa própria" vida.
Um beijinho, Isabel!
Adoro rendas de bilros e vi fazer, nem adivinhas onde.
No Brasil, no nordeste. Há dezenas de rendilheiras.
O teu poema está um espanto.
Estás a escrever cada vez melhor.
Parabéns e um beijinho
belos rendilhados que aqui teceste!
beijos e bom fim de semana
Uma óptima homenagem às nossas artistas!
http://www.escritartes.com/forum/index.php?referredby=3
Isabel minha amiga
Eu respeito a sua decisão, mas fico triste. Gostava de vir aqui lê-la, por favor não deixe de nos dar notícias. Continue a publicar dentro das suas possibilidades, espero que o seu problema de saúde seja passageiro. Virei aqui de qualquer das maneiras. Melhore rápido, descanse, tudo vai correr bem.
Um beijinho muito grande desta sua amiga,
Isabel
rendas lindas são feitas por mãos não menos lindas, é a nossa tradição que não deve de acabar
beijos
Isabel
Fiquei muito triste com o comentário que teve a amabilidade de deixar no meu blogue. Fui apanhado por uma gripe que já não tem nada a ver com as gripes de antigamente. Só agora começo a andar de pé, embora com a vista ainda a lacrimejar. Estou ansioso para que este virus morra, adormeça ou me abandone, me deixe voltar à normalidade. Porém, ao contrário daquilo que desejo ao vírus quero que a Isabel continue a deliciar-nos com as suas histórias e os seus surpreendentes poemas. É incrível! Jamais podia imaginar que num espaço virtual pudessemos afeiçoarmo-nos tanto a certas pessoas. Desejo que tudo esteja bem consigo e com a família. Mas também irei para a rua gritar "Volta Isabel!" se pensar em afastar-se, agora, do blogue.
Mil beijinhos com ternura.
António
Olá António,
seja bem-vindo, de todo que não sabia que estava doente, estranhei a sua ausência, e quando nos habituamos a "ver" uma pessoa todos os dias estranhamos, essa a razão do comentério.
É caso para dizer vírus malditos, espero que esteja melhor, agora pela ordem natural das coisas vai passando.
Eu estou um pouco de castigo, não posso vir muito ao computador, para não esforçar o braço e só com um não consigo, e ainda é pior.
Habituei-me a escrever com as duas mãos desde sempre.
Temos que nos habituar a tudo, mas como o braço não está imobilizado há sempre a tendência de levá-lo lá,
só ralhando bem com ele.
Mas vai passar pode levar algum tempo, e eu vou tentar portar-me bem.
Beijinhos, as suas melhoras e eu vou andando por aí, e tentando publicar, mas como não gosto de atirar com qualquer coisa prefiro não dizer nada.
Isabel
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