Na casa grande, sentada no banco de pedra, junto à vidraça, onde a chuva batia copiosamente, e as gotas se juntavam e caíam na vertical, me sentei.
O frio gélido do vidro me fazia frio, e me congelava os ossos, não fora a lareira acesa que me reconfortava.
Uma gota cristalina, transparente chamou-me a atenção, me hipnotizou, e ao cair levou meu pensamento para tempos recuados, recuados no próprio tempo.
Outras épocas, outros tempos, outras gentes perdidas no passado, renascidas na memória.
Fechei os olhos e a gota se transformou, numa pérola brilhante, num diamante lapidado.
Um salão de baile, igual aquele, um piano ao fundo, belas damas, com seus pares, na sua altivez, na sua palidez, dançavam ao som de valsas de Strauss.
Nos esguios dedos um anel de diamantes, e no elegante pescoço um colar. Tudo brilhava, tendo por fundo belas melodias.
E, dançavam, dançavam até ao amanhecer, e tudo se transformava num requinte sem igual, até o sol nascer. Pura imaginação.
Foi quando os olhos abri, e percebi, que não havia salão, não havia damas com seus pares com seus bigodes farfalhudos, sua elegância, imponência, não havia nem anéis, nem colares de diamantes, nem tão pouco uma linda melodia de Strauss.
Só uma grande sala vazia, uma lareira acesa, um piano ao fundo já estragado, mas cheio de recordações e belos acordes.
E na janela a bater apenas uma gota, apenas uma gota de água, cristalina, transparente que me fez sonhar, e me fez atravessar o passado, entre uma e outra gota gelada caída na janela daquela casa grande e fria.
Isabel Cabral
16 comentários:
caminhar de encontro ao passado, isabel, às vezes é doloroso...
recordações de um ontem que agora é gélido...
beijinhos
Esta é uma viagem ao passado gaivota, nas palavras de alguém que escreve, não é real, não é fantasia.
São simplesmente palavras!
Não quer dizer que algumas viagens ao passado não sejam dolorosas e outras extremamente gratificantes.
Mas são simplesmente palavras!!!
Beijinhos
Isabel
Isabel,
A janela encantou-me.
E as suas palavras conseguiram fazer-me voltar ao passado consigo, e estar nesse salão e ver o piano e até saber qual era a valsa de Strauss...
Muito lindo.
Como gostei!
Obrigada por este momentos de magia.
um beijo
viviana
Isabel,
A janela encantou-me.
E as suas palavras conseguiram fazer-me voltar ao passado consigo, e estar nesse salão e ver o piano e até saber qual era a valsa de Strauss...
Muito lindo.
Como gostei!
Obrigada por este momentos de magia.
um beijo
viviana
Texto encantdor, romantico e a valsa de Strauß também presente.
Isabel continue a escrever... vai dar um lindíssimo conto.
Li no comentário da Licas que vai haver um novo livro do seu pai. Por favor, diga tudo acerca disso.
Boa noite!
Bom Dia Isabelita
Rodopiei ao som da melodia de Strauss, com um colar de pérolas, as minhas preferidas, mas a gota de chuva veio arrefecer a vertigem da valsa e me fez voltar à realidade. E uma gota de chuva é como uma lágrima, ou uma palavra a soltar-se da alma.
Beijinhos
Isabel
Bom dia Isabel,
Vim aqui muito rapidamente para lhe dizer que provavelmente tem razão, a gota cristalina era certamente uma lágrima que teimava em não querer sair e na gota de água escorreu através da vidraça que foi minha intermediária.
Beijinhos
Isabel
Depois falamos
Ainda bem que dançou a valsa Viviana, gosto quando as pessoas conseguem entrar nas minhas palavras como se vivessem aquilo que eu escrevo.
Beijos
Isabel
E nós Teresa ,quanto à continuação, não sei se terá, até podia ter,mas é difícil, são coisas de momento não sei se conseguiria desenvolver uma história ,talvez coisas separadas do género que depois juntasse.
Vou tentar.
Quanto ao livro do meu pai, nós já o temos porque o meu pai já o tinha na tipografia e tirou uns tantos exemplares para oferecer à fammília, só agora é que ficam todos prontos, ou já estarão, o lançamento é no sábado que vem, dia 31 de Janeiro e chama-se "Nau dos Corvos".
Beijo,
Isabel
Ao ler o seu texto vi nítidamente o ínicio de um filme da época de Jane Austen. Adoro os filmes, mas principalmente os romances.
Depois do lançamento podemos ler alguma coisa? Diga-me o nome da editora, por favor!
A Madame Bovary nao é uma vítima. A verdadeira vítima é o pobre Charles. Escrevi um trabalho sobre esta figura, em alemao, quando tiver mais tempo, vou traduzi-lo para portugues, e postá-lo no "ematejoca azul".
Até logo!
QUERIDA ISABEL... GOSTEI MUITO DESTA VOLTA AO PASSADO... BOM FIM DE SEMANA AMIGA!!!
UM ABRAÇO DE GRANDE CARINHO E TERNURA,
FERNANDINHA
Teresa não sei a que filme se refere mas ainda bem, vou escrever para ser guionista :).
Desde a adolescência que escrevo muito em prosa, mas a maior parte dos textos perderam-se de certeza,nos tempos da adolescência, emprestava a amigas para ler, e depois perdiam-se, outra parvoíce é que eu própria punha nas gavetas, e quando se faziam arrumações, lá íam todos os papéis para o lixo, inconsciência pura talvez recupere agora.
Mas comecei com a poesia e não mais larguei, vou começar ou tentar fazer mais textos, apesar da fase não ser das melhores.
O livro do meu pai, é edição do próprio, quase todos são, o meu pai prefere, eu prometo que hei-de fazer chegar-lhe um às mãos.
Beijinhos
Isabel
Viajar pelo passado, sonhar com coisas tão simples como uma gota de chuva - é libertar-se, por vezes, de fantasmas...
Lindo texto...
Obrigada pela visita e quando ao template, também estou feliz com a mudança...
Beijos e abraços
Marta
Olá Isabelita
Venho com uma tarde linda de sol desejar-lhe um rico fim de semana.
Estive a ler os comentários da Teresa e tem razão, parece uma cena romântica de um filme em que os pares dançavam com tanta graciosidade. E lembra muito a Jane Austen, mas eu sou uma romântica e sonhadora, danço muitas vezes, sozinha, a valsa, tinha um gato branco que gostava de rodopiar comigo.
Beijinhos
Isabel
Adorei querida prima e fez-me pensar em como o nosso presente é feito de passados, de gotas de agua e de valsas ...
Ate breve
Ana
Isabel
Que belo sonho o seu!
Quando adormecemos ao som da chuva e da gota a cair na vidraça, é porque o mais ínfimo do nosso ser está lá, vivo, ligado ao passado, embalado pelos sonoros acordes de Strauss.
Por vezes fazem-nos derramar uma lágrima.
Saudade? Tristeza? Pena? Receio?
Não sei!
Sei, isso sim, que só sonha assim quem tem um belo e feliz passado e quem no presente mantém um espírito desanuviado e grato pelas velhas recordações.
Só e apenas as grandes almas, que ainda sabem chorar.
Continuação de um bom fim de semana.
Isabel (Licas)
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